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domingo, 30 de junho de 2013

Felicidade clandestina - Clarice Lispector


        
     Ela era gorda, baixa, sardenta e de cabelos excessivamente crespos, meio arruivados. Tinha um busto enorme; enquanto nós todas ainda éramos achatadas. Como se não bastasse, enchia os dois bolsos da blusa, por cima do busto, com balas. Mas possuía o que qualquer criança devoradora de histórias gostaria de ter: um pai dono de livraria.

   Pouco aproveitava. E nós menos ainda: até para aniversário, em vez de pelo menos um livrinho barato, ela nos entregava em mãos um cartão-postal da loja do pai. Ainda por cima era de paisagem do Recife mesmo, onde morávamos, com suas pontes mais do que vistas. Atrás escrevia com letra bordadíssima palavras como "data natalícia" e "saudade".

    Mas que talento tinha para a crueldade. Ela toda era pura vingança, chupando balas com barulho. Como essa menina devia nos odiar, nós que éramos imperdoavelmente bonitinhas, esguias, altinhas, de cabelos livres. Comigo exerceu com calma ferocidade o seu sadismo. Na minha ânsia de ler, eu nem notava as humilhações a que ela me submetia: continuava a implorar-lhe emprestados os livros que ela não lia.

     Até que veio para ela o magno dia de começar a exercer sobre mim uma tortura chinesa. Como casualmente, informou-me que possuía As reinações de Narizinho, de Monteiro Lobato.

    Era um livro grosso, meu Deus, era um livro para se ficar vivendo com ele, comendo-o, dormindo-o. E completamente acima de minhas posses. Disse-me que eu passasse pela sua casa no dia seguinte e que ela o emprestaria.

    Até o dia seguinte eu me transformei na própria esperança da alegria: eu não vivia, eu nadava devagar num mar suave, as ondas me levavam e me traziam.

    No dia seguinte fui à sua casa, literalmente correndo. Ela não morava num sobrado como eu, e sim numa casa. Não me mandou entrar. Olhando bem para meus olhos, disse-me que havia emprestado o livro a outra menina, e que eu voltasse no dia seguinte para buscá-lo. Boquiaberta, saí devagar, mas em breve a esperança de novo me tomava toda e eu recomeçava na rua a andar pulando, que era o meu modo estranho de andar pelas ruas de Recife. Dessa vez nem caí: guiava-me a promessa do livro, o dia seguinte viria, os dias seguintes seriam mais tarde a minha vida inteira, o amor pelo mundo me esperava, andei pulando pelas ruas como sempre e não caí nenhuma vez.

    Mas não ficou simplesmente nisso. O plano secreto da filha do dono de livraria era tranquilo e diabólico. No dia seguinte lá estava eu à porta de sua casa, com um sorriso e o coração batendo. Para ouvir a resposta calma: o livro ainda não estava em seu poder, que eu voltasse no dia seguinte. Mal sabia eu como mais tarde, no decorrer da vida, o drama do "dia seguinte" com ela ia se repetir com meu coração batendo.

    E assim continuou. Quanto tempo? Não sei. Ela sabia que era tempo indefinido, enquanto o fel não escorresse todo de seu corpo grosso. Eu já começara a adivinhar que ela me escolhera para eu sofrer, às vezes adivinho. Mas, adivinhando mesmo, às vezes aceito: como se quem quer me fazer sofrer esteja precisando danadamente que eu sofra.

   Quanto tempo? Eu ia diariamente à sua casa, sem faltar um dia sequer. Às vezes ela dizia: pois o livro esteve comigo ontem de tarde, mas você só veio de manhã, de modo que o emprestei a outra menina. E eu, que não era dada a olheiras, sentia as olheiras se cavando sob os meus olhos espantados.

   Até que um dia, quando eu estava à porta de sua casa, ouvindo humilde e silenciosa a sua recusa, apareceu sua mãe. Ela devia estar estranhando a aparição muda e diária daquela menina à porta de sua casa. Pediu explicações a nós duas. Houve uma confusão silenciosa, entrecortada de palavras pouco elucidativas. A senhora achava cada vez mais estranho o fato de não estar entendendo. Até que essa mãe boa entendeu. Voltou-se para a filha e com enorme surpresa exclamou: mas este livro nunca saiu daqui de casa e você nem quis ler!

   E o pior para essa mulher não era a descoberta do que acontecia. Devia ser a descoberta horrorizada da filha que tinha. Ela nos espiava em silêncio: a potência de perversidade de sua filha desconhecida e a menina loura em pé à porta, exausta, ao vento das ruas de Recife. Foi então que, finalmente se refazendo, disse firme e calma para a filha: você vai emprestar o livro agora mesmo. E para mim: "E você fica com o livro por quanto tempo quiser." Entendem? Valia mais do que me dar o livro: "pelo tempo que eu quisesse" é tudo o que uma pessoa, grande ou pequena, pode ter a ousadia de querer.

    Como contar o que se seguiu? Eu estava estonteada, e assim recebi o livro na mão. Acho que eu não disse nada. Peguei o livro. Não, não saí pulando como sempre. Saí andando bem devagar. Sei que segurava o livro grosso com as duas mãos, comprimindo-o contra o peito. Quanto tempo levei até chegar em casa, também pouco importa. Meu peito estava quente, meu coração pensativo.

    Chegando em casa, não comecei a ler. Fingia que não o tinha, só para depois ter o susto de o ter. Horas depois abri-o, li algumas linhas maravilhosas, fechei-o de novo, fui passear pela casa, adiei ainda mais indo comer pão com manteiga, fingi que não sabia onde guardara o livro, achava-o, abria-o por alguns instantes. Criava as mais falsas dificuldades para aquela coisa clandestina que era a felicidade. A felicidade sempre iria ser clandestina para mim. Parece que eu já pressentia. Como demorei! Eu vivia no ar… Havia orgulho e pudor em mim. Eu era uma rainha delicada.

    Às vezes sentava-me na rede, balançando-me com o livro aberto no colo, sem tocá-lo, em êxtase puríssimo.

    Não era mais uma menina com um livro: era uma mulher com o seu amante.


Clarice Lispector - Felicidade clandestina - Editora Rocco

quarta-feira, 26 de junho de 2013

Eu leio poesia. E você?

Queridos alunos da Escola Bairro Cruzeiro

Muitos já frequentam a Sala de Leitura, outros ainda não. Para os que "acham" que não gostam de ler, deem uma passadinha por aqui. Ler é estar em um mundo tão grande e diferente. Ler é mudar algo dentro de você. É mudar para o bem e para SEMPRE!!!

Vamos conferir um poema de Manoel de Barros:

O apanhador de desperdícios -  Memórias Inventadas


Uso a palavra para compor meus silêncios.
Não gosto das palavras
fatigadas de informar.
Dou mais respeito
às que vivem de barriga no chão
tipo água pedra sapo.
Entendo bem o sotaque das águas.
Dou respeito às coisas desimportantes
e aos seres desimportantes.
Prezo insetos mais que aviões.
Prezo a velocidade
das tartarugas mais que a dos mísseis.
Tenho em mim esse atraso de nascença.
Eu fui aparelhado
para gostar de passarinhos.
Tenho abundância de ser feliz por isso.
Meu quintal é maior do que o mundo.
Sou um apanhador de desperdícios:
Amo os restos
como as boas moscas.
Queria que a minha voz tivesse um formato de canto.
Porque eu não sou da informática:
eu sou da invencionática.
Só uso a palavra para compor meus silêncios.


Manoel de Barros - Memórias Inventadas - O Apanhador de Desperdícios (Pág. 45) - Ed. Planeta

O que é literatura?



Literatura é a arte de compor escritos artísticos, em prosa ou em verso.

A Literatura, como toda arte, é uma transfiguração do real, é a realidade recriada através do espírito do artista e retransmitida através da língua para as formas, que são os gêneros, e com os quais ela toma corpo e nova realidade. (Afrânio Coutinho)

terça-feira, 18 de junho de 2013

Festa Junina na Escola Cruzeiro

  Dia 07 de junho de 2013, aconteceu a festa junina na nossa Escola.
  Desde a preparação, até a festa propriamente dita, contamos com a participação dos alunos, familiares dos alunos, comunidade escolar, gestores, professores e funcionários. 
  Estou há pouco tempo trabalhando nesta escola como professora responsável pela Sala de Leitura. Comecei a trabalhar com esta equipe exatamente no dia 23 de abril deste ano. É maravilhosa a integração que todos da Escola tem com a comunidade e os alunos. A dedicação é tanta, que em alguns momentos parecemos uma família. 
  Este ano, começamos a ser Escola de Tempo Integral (6º ao 9º ano), projeto implantado pela Secretaria da Educação, visando uma melhor aprendizagem aos alunos.
  Vamos então mostrar o que foi desenvolvido, desde a organização da festa, até o seu acontecimento na noite do dia 07 de junho.

































Professora Sandra Valéria Barbosa 
 Responsável pela Sala de Leitura

Escola Estadual Bairro Cruzeiro - 2013


segunda-feira, 17 de junho de 2013

Um dia na escola de meu filho


No dia 25 de maio, aconteceu um evento na E E Bairro Cruzeiro que não será esquecido tão cedo. O evento foi chamado de “UM DIA NA ESCOLA DE MEU FILHO”, com  a presença do Supervisor de Ensino Luiz Fernando, pais, alunos, professores, equipe gestora, colaboradores do Centro de Saúde.






Neste grandioso dia, organizamos a entrega de boletins do 1º Bimestre deste ano e aproveitando a oportunidade, os professores conversaram com os pais de alunos que participaram das atividades realizadas.

















Os pais jogaram tênis de  mesa com  os professores e filhos, fizeram alongamento e atividade física.



Foi feita a divulgação das atividades culturais e pedagógicas que acontecem na Escola. Como a apresentação dos trabalhos realizados  através de slides com fotos, feitos por nossos alunos.






O Supervisor de Ensino, Sr. Luiz Fernando, fez um breve discurso, agradando muito aos pais presentes. Em seguida, ocorreu o sorteio de brindes, produzidos pelos participantes da Escola da Família. Uma grande mesa com um delicioso café da manhã foi colocada para todos.


















Os colaboradores do Centro de Saúde verificaram e fizeram o controle da pressão arterial. Uma aluna do 3º ano do EM apresentou seu trabalho com o corte e penteado de cabelos, disponível para todos.






                           





Escola Estadual Bairro Cruzeiro 2013